sábado, 31 de julho de 2010

PARATODOS

Minha Linguagem é camisinha
Para todas as raças
Todos os tamanhos
Enfim PARATODOS.
O coloquial me assemelha à pessoas comuns
Consequentemente me distancia
Da maioria de meus heróis.
Camões e Bilac não há.
Dos Anjos foi devorados pelos vermes.
Porém Machado há
Senão nos versos, nas entrelinhas, nas ironias,
E em cada palavra simples.
Oswaldo é presença sempre
No meu livre pensar.
Clarisse também não me deixa
Comigo no sentimento aflorado
No introspecto nossas mãos escrevem.
Ah! Florbela, tão bela no nome,
Com irradiante beleza no penar
Nos assemelhamos no acumulo de soferes.
Ao dizer que escrevo PARATODOS, minto.
Não escrevo para pseudointelectuais esnobes.
Meus versos não são arte
Escrevo como desabafo
Puramente egoísta
Se o faço bem, é irrelevante.
Nunca precisei chorar ou gritar
Eu escrevo e preciso ser compreendida.

Cotidiano

Pássaros sempre voam
Namorados se beijam
Senis à porta de casa
Banquinhos ternos, belos assentos.
Bêbados a se embriagar
Vilas vazias, centros lotados.
Desconexamente natural
Vagamente paralisadas, as luzes piscam.
Pombos tomam praças
Assexuados encontram-se no sexo pago
Prostitutas negociam barato
Espirais hipnotizantes
Maledicentes vizinhas às janelas
Medicos examinam, receitam.
Auxiliares auxiliam
E nos shopings: toc- toc das peruas.
Maridos ignoram esposas
Esposas agridem os filhos
Filhos descontam nos cachorros.
Adolescentes se rebelam em vão
E as crianças. Ah! as crianças!
Lindas, epiléticas, sinceramente algozes.
Gente nascendo, luto.
Gente morrendo, luto.
A urbe em frangalhos
O mundo a girar
Meu copo na mão
Meu cigarro na boca
Meu coração quente
Ai, que vida boa!
Tudo igual.

Sem Aviso

Apreciar a vida é fácil
 Basta ver folhas tão verdes
Sentir o cabelo balançar ao vento
Deixar a chuva molhar seu corpo
Sendo sincera então
Não é simples assim
Danem-se as folhas verdes
Nem á a cor que ressalta meus felinos olhos
Dane-se o vento nos cabelos
Nunca levo pente na bolsa
Dane-se a chuva
Resfrio-me facilmente
Mas me ocorre
Que tem gente com cara de paisagem
Danem-se também
A vida é dura, irmão.
É correr, é gritar, é lutar.
O eterno dever de ser.
É desilusão, é rejeição, é contrafação.
Obedecendo a regras que não criamos.
Cego, surdo e mudo.
E meu corpo escravo
Companheiro da alma, há muito alforriada.
Acordar cedo é ilegal
No parlamento que legislo
Eu quero é dormir de dia
E viver na noite.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

"O Humano Ser"

Homem
Racionalmente sem razão
Conscientemente irresponsável
Verdadeiramente mentirosa
Resplandecentemente sombrio
Surpreendentemente comum
Repulsivamente amável
Ditatoriamente democrático
Indecorosamente belo
Contariamente igual
Serenamente inquieto
Melancólicamente alegre
Lealmente traiçoeiro
Loquazmente taciturno
Egoístamente altruísta
Humildemente ganancioso
Imparcialmente parcial
Opostamente do mesmo lado
PARADOXAL.



















Imagem: O homem vitruviano, Leonardo Da Vinci.

Palavra de mulher...

Você entrou,
Passos lentos, olhos perdidos.
Me perdi então naquele instante.
olhei, encarei, escancarei.
Para que no seu incômodo
Do mesmo modo fosse vista.
Eu ali, menina esperta, mulher moderna.
Poses, sorrisos, anseios.
Certeiro!
Tomei a situação.
Agi, fui homem naquela noite.
Seus lábios macios, úmidos e quentes
Devoravam os meus.
Inesquecível frenesi.
A reciprocidade esteve presente
Dois corpos cúmplices.
Então torturante despedida.
Para minha surpresa
Me procurou, me encontrou.
Também o acaso fez sua parte.
Já não há como esquivar, seremos nós.
Beijando sua boca,
Desfalecendo em seus braços,
Sou mulher todos os dias.


sábado, 3 de julho de 2010

Le Croix.


Seigneur, Dieu des mécontents
Ne me laisse pas tomber maintenant
J'ai des idées, plans et perspectives.
Ne me quitte pas maintenant
Désir d'embrasser le monde
Et je sais que je peux gagner.
Même si tant de fois
L'incrédulité, la mère de toutes les frustrations,
Il traverse mon chemin
Me fait fragiles et sans défense.
Seigneur, Dieu des mécontents
Permettez-moi de ne pas abandonner sur moi.
 
Imagem: Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) Café.

PADAM...PADAM...

Me sentir perdida é vitória diária,
Neste sentimento floresce
Súbita vontade de encontrar-me.
Em um labirinto de monstros atraentes
Almejo estar, Implorando por adrenalina.
Ouvi dizer:
Existe não sei o quê,
Dentro de um baú,
No meio do nada.
Que desde então é alvo da minha busca
Nesta minha inexistência
Vou atrás de sonhos minímos
E grandes pesadelos.
Em carne nua vivo meu prazer sem culpa,
Aguardando morte tardia.
Nos meus próximos cem anos
gozarei de amores conturbados,
Beberei todo o wisky do mundo,
Direi frases incautas,
Terei outros corpos exclusivamente meus,
No instante do "estar".
Miséria, preconceito, ganância,
Jamais existirão em meu pleno futuro.