quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Tempos Modernos

É chegado o momento
Que sua vida não será sua
Será de todo mundo
Não será de ninguém
Irá onde tiver que ir
Chegando onde lhe conduza o destino
Sem nunca sair do lugar
Estradas e pessoas passarão
Alegria e tristeza sentirá
Se na vertigem cair
A necessidade te obriga a levantar
Rotação universal
360° ao redor de seu eixo
- Como dizia o professor
E quem está no eixo vai rodar
Virando brinquedo na mão do inconsequente
Que vai se divertir sem prudência
Girando, quebrando, chorando
De que vale então chorar?
Se o brinquedo tão querido
- Que jamais passou de brinquedo
Está em cacos
Já não serve
Todos cantam em coro:
- Compra outro, um melhor.
E acaba tudo por findar
No futuro desse mundo em que tudo substitui.

Bolero

Me sentir perdida é vitória diária
Nela me floresce
Súbita vontade de encontrar-me
Em um labirintos de monstros atraentes
Almejo estar
Implorando por adrenalina
Ouvi dizer:
Existe "não sei o que"
Dentro de um baú
No meio do nada
Desde então é alvo da minha busca
Nesta minha existência
Vou atrás de sonhos mínimos
E grandes pesadelos
Em carne nua
Vivo meu prazer sem culpa
Aguardando morte tardia
Nos próximos cem anos
Gozarei de amores conturbados
Beberei todo os uísque do mundo
Direi frases incautas
Terei corpos exclusivamente meus
No instante do estar
Miséria, preconceito, ganância
Jamais existirão em meu pleno futuro.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Quadrilha

Adorava João,
Ele não gostava de mim.
Admirava José,
Esse por sua vez, nunca me viu.
Amava Joaquim,
Este via-me como singela amiga.
Passa-se o tempo
João, José, Joaquim
Todos com outras
Extasiados de felicidade
E eu, com minha irônica alegria
Alegro-me ao vê-los felizes
E eu, na minha mórbida tristeza
E falso contentamento
Continuo tão só quanto antes.

sábado, 31 de julho de 2010

PARATODOS

Minha Linguagem é camisinha
Para todas as raças
Todos os tamanhos
Enfim PARATODOS.
O coloquial me assemelha à pessoas comuns
Consequentemente me distancia
Da maioria de meus heróis.
Camões e Bilac não há.
Dos Anjos foi devorados pelos vermes.
Porém Machado há
Senão nos versos, nas entrelinhas, nas ironias,
E em cada palavra simples.
Oswaldo é presença sempre
No meu livre pensar.
Clarisse também não me deixa
Comigo no sentimento aflorado
No introspecto nossas mãos escrevem.
Ah! Florbela, tão bela no nome,
Com irradiante beleza no penar
Nos assemelhamos no acumulo de soferes.
Ao dizer que escrevo PARATODOS, minto.
Não escrevo para pseudointelectuais esnobes.
Meus versos não são arte
Escrevo como desabafo
Puramente egoísta
Se o faço bem, é irrelevante.
Nunca precisei chorar ou gritar
Eu escrevo e preciso ser compreendida.

Cotidiano

Pássaros sempre voam
Namorados se beijam
Senis à porta de casa
Banquinhos ternos, belos assentos.
Bêbados a se embriagar
Vilas vazias, centros lotados.
Desconexamente natural
Vagamente paralisadas, as luzes piscam.
Pombos tomam praças
Assexuados encontram-se no sexo pago
Prostitutas negociam barato
Espirais hipnotizantes
Maledicentes vizinhas às janelas
Medicos examinam, receitam.
Auxiliares auxiliam
E nos shopings: toc- toc das peruas.
Maridos ignoram esposas
Esposas agridem os filhos
Filhos descontam nos cachorros.
Adolescentes se rebelam em vão
E as crianças. Ah! as crianças!
Lindas, epiléticas, sinceramente algozes.
Gente nascendo, luto.
Gente morrendo, luto.
A urbe em frangalhos
O mundo a girar
Meu copo na mão
Meu cigarro na boca
Meu coração quente
Ai, que vida boa!
Tudo igual.

Sem Aviso

Apreciar a vida é fácil
 Basta ver folhas tão verdes
Sentir o cabelo balançar ao vento
Deixar a chuva molhar seu corpo
Sendo sincera então
Não é simples assim
Danem-se as folhas verdes
Nem á a cor que ressalta meus felinos olhos
Dane-se o vento nos cabelos
Nunca levo pente na bolsa
Dane-se a chuva
Resfrio-me facilmente
Mas me ocorre
Que tem gente com cara de paisagem
Danem-se também
A vida é dura, irmão.
É correr, é gritar, é lutar.
O eterno dever de ser.
É desilusão, é rejeição, é contrafação.
Obedecendo a regras que não criamos.
Cego, surdo e mudo.
E meu corpo escravo
Companheiro da alma, há muito alforriada.
Acordar cedo é ilegal
No parlamento que legislo
Eu quero é dormir de dia
E viver na noite.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

"O Humano Ser"

Homem
Racionalmente sem razão
Conscientemente irresponsável
Verdadeiramente mentirosa
Resplandecentemente sombrio
Surpreendentemente comum
Repulsivamente amável
Ditatoriamente democrático
Indecorosamente belo
Contariamente igual
Serenamente inquieto
Melancólicamente alegre
Lealmente traiçoeiro
Loquazmente taciturno
Egoístamente altruísta
Humildemente ganancioso
Imparcialmente parcial
Opostamente do mesmo lado
PARADOXAL.



















Imagem: O homem vitruviano, Leonardo Da Vinci.