Parece-me uma eternidade
Duas horas de espera
O relógio é anti-horário
Lentamente arrebatador
Sinto pois o pulso, sim, ainda pulsa.
Um, dois, três...
Não tenho paciência para contar
Nas veias o sangue
Apostam corrida, novamente as hemácias descontroladas.
Um infindável percurso cíclico.
Enquanto as luzes dos carros me cegam
Penso que não há sequer
Um glóbulo de sangue bem-sucedido neste pífio corpo
Pessoas caminham ao meu lado
Me invadem, me ferem com sua indiferença
Não me enxeragam, sinto-me expectral.
À minha frente a cerveja esquenta na noite fria
Entre os dedos, o cigarro fiel.
Distraio-me segundos com a fumaça
Segundos eternos.
Observo mesas e cadeiras
Amarelas e vermelhas
Uma combinação bizarra
Quem liga!?
Bares são todos iguais
Em rubras faces alegres
Ébrios olhares cortejantes
Pessoas desiludidas
Uma ou outra, desilusão em pessoa.
Buscam remédio para a mal do século
Sinto dizer:
Aqui se encontra o vírus.
Sinto saber:
Estou contagiada
Minha espera finda
Não espero nada mais
Levanto, titubeio, caminho.
A faixa contínua entre as pistas me hipnotiza.
A estrada é tão escura.
Levanta-se para um destino incerto, para a morte talvez... Realmente, 'cigarro fiel' para o solitário.
ResponderExcluir